Sempre fui um amante da costa que se estende entre Cascais e Lisboa.
Desde que o paredão que une Cascais a São João do Estoril foi inaugurado, num percurso pedestre de aproximadamente 3 km de extensão, que costumo apreciar toda a sua beleza fazendo passeios ou “jogging” à "beira mar".
Durante os percursos sempre fui um observador atento de toda a parte envolvente do paredão. Obviamente que a demolição do Hotel Estoril Sol concluída em 2007 não me deixou indiferente. Sempre tive a curiosidade saber qual a utilização que iria ser dada ao espaço entretanto libertado e não posso negar tinha uma expectativa positiva.
Infelizmente as minhas expectativas saíram goradas. Está a ser construído um monstro!!!
Com o argumento de que as dimensões do Hotel Estoril Sol eram desproporcionais para a zona, por sobressair demasiado na bela costa do Estoril e pela sua remodelação ser demasiado dispendiosa, foi aprovado pela Câmara Municipal de Cascais em 2006 um Plano de Pormenor para a Reestruturação Urbanística dos Terrenos do Hotel Estoril-Sol, o que abriu as portas à sua demolição e ao novo projecto urbanístico.
Pois bem, o novo Estoril-Residence não só é do mesmo tamanho como tem um impacto visual muito superior, alterando mesmo o «sky line» de Cascais, e consegue ter uma arquitectura bem mais pesada e de gosto muito discutível.
A sua estrutura em H foi a artimanha encontrada para libertar espaço no solo e assim viabilizar a sua construção. A sua traça que faz lembrar um amontoado de contentores no Porto de Lisboa, as dimensões desproporcionadas à zona e à “escala humana”, a falta de enquadramento na envolvente arquitectónica e paisagística – não devemos esquecer que o local da construção fica à entrada da Vila de frente para a marginal e para o mar e que Cascais é uma antiga vila de pescadores - e o Hotel Mirage Hotel deixará de ter as vistas para Cascais.
O Estoril Sol Residence "começou a ser construído em inícios de 2008 em torno de várias polémicas e até chegou a ser entregue uma petição contra o projecto . A presidente do Grupo Ecológico de Cascais (GEC), Paula Mascarenhas, disse à Lusa que "o ideal seria não ter sido construído nada, possibilitando a existência de um contínuo verde naquela zona".
"Quando o plano foi aprovado mostrámos o nosso descontentamento e o vereador garantiu que seriam tomadas medidas para preservar o Parque de Palmela e aumentar a sua área", disse Paula Mascarenhas.
O novo edifício, maioritariamente habitacional, é ainda alvo de desaprovação por parte da dirigente da GEC devido à "mudança do uso colectivo para o individual".
O "Estoril Sol Residence", composto por 111 apartamentos habitacionais, contempla três torres de vidro ligadas entre si por um bloco em forma de ponte, numa altura máxima de 60 metros e num total de 15 pisos a contar do solo, sendo que o piso zero, ao nível da Avenida Marginal, é destinado a escritórios e serviços (clique aqui).
Assista ao video (extraído do Sapo) da peça da Sic Notícias sobre a polémica em torno do edifício (clicar)
É legítimo deixar algumas questões para reflexão :
1- Estamos perante um caso de pura especulação imobiliária onde de forma clara o interesse público foi passado para segundo plano?
2 - A construção de um novo hotel tendo respeitando as especificidades do local não teria mais vantagens económicas e sociais para o município?
3 - Não são casos como este, no mínimo intrigantes, que levam ao afastamento entre eleitores e eleitos?
Termino com a reflexão de alguns colegas bloguistas sobre o assunto:
1 - "Sim! Por este caminho o regresso está cortado.Nestes contentores gigantes de luxo que se medem com o mar e esmagam a vizinhança apesar do verde público de que se apropriam, a arte e o engenho não estão ao serviço do "homenzinho", mas de uma classe internacional de Novos-Deuses que gravita nas imediações do vértice da pirâmide social moderna. Para eles o "International Style"! Eles têm que ter os seus "não-lugares" cenográficos, os seus rituais, os seus adereços, as suas mulheres e outros sinais de "status" ou de riqueza exterior nesta nossa "sociedade de consumo conspícuo". "Noblesse oblige"! " Publicado por orbis (clique aqui)
2 - "O Estoril Sol Residence reflete a miséria intelectual da arquitectura globalizada-um hipermercado da habitação em ferro e vidro-atropelando a paisagem local ,esmagando a escala humana.É um MONUMENTO Á INSUSTENTABILIDADE(e até á instabilidade da Estática Física).É a "Dubaização" de Cascais que destruirá o turismo local e o Parque Público Palmela. " Publicado por António (clique aqui)
3 - "Não posso calar-me. Não posso calar-me mais. Não me calarei.
Absorvido por outras interesses e obrigações, passou-me completamente despercebida a apresentação pública do empreendimento Estoril Sol Residence e do respectivo vídeo promocional. Não consigo descrever-vos completamente o conjunto de pensamentos e emoções que me perpassaram quando tomei conhecimento de ambos: espanto, incredulidade, horror, zanga, negação, indignação, ...
Levei um dia inteiro para sair do estado de estupefacção e revolta. Depois sentei-me e procurei na Palavra um sinal para o meu apaziguamento e o meu entendimento." Publicado por zedeportugal (clique)
4 - "Qual é a eficiência energética de um edifício com tais vãos? Que estratégias bioclimáticas e sistemas passivos, em especial de arrefecimento, pode ter tal gaiola de vidro? Com esta configuração e nas nossas condições climáticas, o conforto térmico no interior do edifício vais estar completamente dependente de sistemas de climatização artificial. Qual o custo energético disto? Qual o custo em emissões de CO2 deste enorme dispêndio energético? Em caso de falha energética ou mecânica do sistema de climatização os habitantes vão sentir na pele, literalmente, o que significa o que estou a dizer!" (...)estes "pequenos luxos": "Por enquanto, ainda se pode comprar T2 por valores entre um milhão e os 1,5 milhões de euros ou T4 por entre 2 e 2,5 milhões de euros. Isto só nos andares mais baixos das torres. À medida que se sobe o preço também aumenta, até aos 8,7 milhões: apartamento mais caro actualmente disponível.". [aqui]
"O que faz impressão na lista dos cem mais ricos de Portugal é constatar que as suas fortunas acumuladas representam 22% de toda a riqueza do país e que o fosso entre os que mais ganham e os que menos ganham é o maior de toda a Europa comunitária a quinze. E faz impressão pensar que, enquanto os trabalhadores por conta de outrem e a generalidade da classe média e média-baixa viu os seus rendimentos subir entre zero e três por cento no ano passado, os cem mais ricos aumentaram a sua riqueza em 36%.". [Miguel Sousa Tavares, publicado segunda-feira, 20 de Agosto de 2007 8:00 por Expresso Multimedia]" Publicado por zedeportugal (clique)
5 - "Ao pé daquilo o Estoril-Sol é um chalet. [...]» Na altura pensou-se que o delírio podia abortar." Publicado por Eduardo Pitta (clique)
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