Segundo a agência Lusa, as 18 pessoas que trabalham na fábrica de calçado de Arouca receberam, na passada quinta feira, a seguinte mensagem no telemóvel, sem qualquer assinatura e a partir de um número desconhecido: “A partir de segunda feira, a empresa vai fechar. Vão receber a carta para o desemprego”. Lina Cardoso recordou que recentemente as 18 trabalhadoras fizeram horas extra, muito embora tenha ouvido que as «Finanças vieram aqui para buscar as máquinas», apesar de não ser do conhecimento das trabalhadoras que a Pinhosil tivesse dívidas.
Ouvida pela TSF, outra das funcionárias da Pinhosil explicou que as trabalhadoras foram de férias a 6 de Agosto e que estas foram informadas que iriam receber na segunda-feira seguinte.
«Até hoje não recebemos nada. E durante estas férias, na quinta-feira passada, recebemos uma mensagem em que a empresa ia fechar e a partir de segunda-feira iríamos receber uma carta para o fundo de desemprego», adiantou Lina Cardoso.
Concentrada junto com as suas colegas à porta da empresa, esta trabalhadora lembrou que ninguém disse para que as funcionárias não se apresentassem no seu local de trabalho e considerou que «esta não é forma de se fechar a empresa», através de um sms. Para as trabalhadoras os patrões fazem “gato- sapato das pessoas”.
«Ele não nos diz nada e também não nos devemos ir embora. Tentámos falar com o patrão, mas ele não atende. Mandámos mensagem, mas ele não aparece», acrescentou esta funcionária, que disse que não faltavam encomendas à empresa.
«Trabalhávamos para várias empresas, algumas há vários anos. Ele dizia que as empresas pagavam certinhas», concluiu esta funcionária despedida na quinta-feira por sms. Fernanda Moreira, dirigente do Sindicato dos Operários da Indústria do Calçado, Malas e Afins dos Distritos de Aveiro e Coimbra, disse à Lusa que “a Pinhosil sempre foi uma empresa que deu problemas, pagava mal e nunca entregava os subsídios por inteiro (…) mas não é assim que se tratam as pessoas”. “Legalmente”, acrescenta, “a empresa tem que comunicar aos trabalhadores que vai iniciar o processo de insolvência – se for esse o caso – e depois falar com o pessoal e entregar todos os papéis necessários para o desemprego”. Fernanda Moreira diz ainda: “Se o patrão não entregar as cartas, tem que ser a Inspecção do Trabalho a conduzir o processo. Mas como a Inspecção só pode intervir ao fim de alguns dias e depois ainda há outros prazos a cumprir, podem-se passar três semanas até as pessoas poderem pedir o subsídio de desemprego”. (clique)
A Pinhosil abriu há quatro anos. O proprietário, Manuel Pinho Silva, detinha antes a Pinho Oliveira, também de Arouca, cujo encerramento, segundo os funcionários da Pinhosil (todos transferidos da empresa anterior), “nunca foi bem explicado”.
Video extraído de www.rtp.pt
Outros Casos ocorridos na região do Porto durante o mês de Agosto :
Em Lousada, a empresa de confecções Andradress, encerrou para férias em 18 de Agosto e já não volta a abrir. Os 45 trabalhadores, na maioria mulheres, foram informados do encerramento por advogados contratados pela empresa. As trabalhadoras foram surpreendidos pelo encerramento, até porque antes de férias fizeram horas extraordinárias para acabar uma encomenda de 18.000 camisas.
Em Paços de Sousa, Penafiel, a fábrica de confecções Nelbruvest já não vai abrir, lançando 70 pessoas, na maioria mulheres, no desemprego. As trabalhadoras foram despedidas por carta que receberam do patrão da fábrica. Uma trabalhadora da fábrica, Fátima Vieira, disse à agência Lusa que a fábrica encerrou para férias no dia 13 de Agosto, mas no dia seguinte as operárias foram avisadas por vizinhos para a retirada de máquinas da empresa. Dirigindo-se à fábrica as operárias perguntaram ao patrão se estava, o que ele negou, garantido que a empresa abriria a 6 de Setembro. Dias depois, no entanto, as operárias começaram a receber cartas de despedimento, onde “o patrão justificava o despedimento com dificuldades financeiras e a desconsideração manifestada pelos funcionários”, revelou Fátima Vieira. Segundo os seus cálculos a empresa deve a cada trabalhador cerca de 2.200 euros.
Pela amostra destes casos, ocorridos apenas durante o mês de Agosto e numa área circunscrita do país, conseguimos entender sem dificuldades as preocupações do responsável pelo maior partido da oposição relativamente à urgência em alterar a lei dos despedimento no nosso país. Existirão dúvidas sobre a necessidade de liberalizar o despedimento de trabalhadores por "razões atendíveis" como defende este dirigente político que ambiciona ser 1.º ministro de Portugal? A situação destes trabalhadores e dos mais de 600.000 desempregados inscritos nos centros de emprego de todo o país responde à questão...